O que é:
É um modelo de prevenção e tratamento de conflitos por meio de um diálogo igualitário que envolve toda a comunidade. Ao lidar com o conflito, o consenso entre todas as partes envolvidas, especialmente o aluno, sobre as regras de convivência assume o papel central, gerando um diálogo compartilhado por toda a comunidade ao longo do processo normativo (ética procedimental). O modelo dialógico se concentra na criação de um espaço melhor para o aprendizado nas escolas, livre, desde o início, de violência, adotando uma abordagem preventiva ante o conflito. Ele é considerado mais eficaz para a prevenção e a resolução de conflitos do que os modelos disciplinares (baseados em hierarquias e no papel de uma autoridade que mantém a convivência) e os modelos de mediação (baseados no envolvimento de um “especialista” que faz a mediação entre as partes de acordo com as regras estabelecidas).
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Como é organizado:
No modelo dialógico, cinco linhas de trabalho são desenvolvidas:
- Implementação de Atuações Educativas de Êxito. Essas ações, como os grupos interativos ou as tertúlias dialógicas, promovem a colaboração e os princípios baseados na solidariedade, como a transformação e o diálogo igualitário, que, por sua vez, dão origem a um clima livre de violência e construído com base na amizade.
-
Desenvolvimento da norma escolar por meio de um processo de democracia deliberativa baseado no diálogo igualitário. Para decidir sobre uma regra e respeitá-la, propõe-se um processo de diálogo que pode durar algumas semanas. Para que essa regra consensual seja eficaz, ela deve atender a seis condições:
- que possa ser claramente acordada por todas as pessoas, de todas as mentalidades e idades;
- que tenha relação direta com uma questão-chave na vida das crianças;
- que haja um claro apoio “verbal” do conjunto da sociedade;
- que (até agora) seja descumprida reiteradamente;
- que seja possível eliminá-la;
- que, ao superá-la, a comunidade dê um exemplo à sociedade, às famílias, ao professorado e às crianças.
O consenso de uma norma é concretizado em sete etapas, por meio das quais são garantidos o diálogo e a participação de toda a comunidade:
- Uma comissão mista de professores/as, familiares e estudantes propõe uma norma a ser considerada por toda a comunidade.
- A norma é discutida em uma assembleia de toda a escola com o máximo de participação possível.
- Os membros da comissão mista difundem a norma proposta a todos os grupos de alunos/as, dos quais os/as representantes de classe coletam comentários, inclusive sugestões de alterações.
- Os/as representantes dos/das estudantes, com o apoio dos membros da comissão mista, discutem como a norma proposta deve ser implementada.
- Os/as representantes dos/das estudantes relatam suas discussões em uma reunião de funcionários/as da escola, famílias e membros da comunidade. Também coletam as respostas desses grupos e retornam às suas respectivas salas de aula acompanhados por um professor/a ou tutor/a e um representante da comissão mista.
- A comunidade supervisiona a implementação e o monitoramento contínuo da norma. Os acompanhamentos são realizados em grupos e o processo geral é supervisionado pelos/as representantes das e dos alunos e pela comissão mista.
- O processo funciona em conjunto com a formação por meio das tertúlias pedagógicas e feministas dialógicas, e outras atividades consideradas necessárias.
- Introdução de mais estruturas e espaços de diálogo que promovam a violência zero desde a primeira idade. Uma escola que implementa AEEs e é uma comunidade de aprendizagem envolve as famílias na aprendizagem, na tomada de decisões e na avaliação. A prevenção e a resolução de conflitos, que defendem a tolerância zero à violência desde a primeira idade devem ser prioridades na agenda da comissão mista da escola, que se concentra na convivência escolar e nos problemas sociais. As assembleias são outro espaço usado nas Comunidades de Aprendizagem para evitar o surgimento de conflitos. São reuniões regulares, por exemplo, em salas de aula, nas quais as famílias são convidadas a participar regularmente, se possível. O consentimento e a quebra da lei do silêncio são temas discutidos nesses espaços.
- Promover a conscientização em toda a escola sobre a melhor pesquisa científica sobre a socialização preventiva da violência de gênero. A prevenção da socialização na violência de gênero consiste em gerar interações sociais que promovam a atração por modelos igualitários e a rejeição de modelos violentos. A pesquisa pioneira de Jesús Gómez (2005) sobre socialização no amor e atração, especialmente em jovens e adolescentes, é a primeira a propor que a atração é o resultado de interações sociais. Seu estudo demonstra a existência de uma socialização majoritária (embora não única ou exclusiva) que promove uma ligação entre atração e violência. Isso significa que muitos agentes de socialização, inclusive a mídia (propagandas, filmes, músicas etc.), transmitem a mensagem de que padrões de relacionamento violentos ou potencialmente violentos são prejudiciais, mas empolgantes, enquanto padrões de relacionamento igualitários são desejáveis, mas mais entediantes. Entretanto, se o amor e a atração são sociais, o diálogo permite a transformação do desejo de violência em um desejo por modelos mais igualitários. Nesse sentido, a prevenção da violência de gênero também envolve trabalhar a questão da masculinidade, rejeitando modelos violentos de masculinidade e promovendo masculinidades não violentas como “atraentes” e, ao mesmo tempo, “seguras”. Assembleias, sessões de cinema, tertúlias dialógicas e conversas informais nas escolas são promovidas para desenvolver uma melhor compreensão dessas teorias de pesquisa e para estabelecer uma oposição compartilhada a qualquer tipo de violência.
- Fomentar a intervenção do espectador. Promover ações na escola que fomentem as amizades, a solidariedade e o apoio das pessoas que sofrem qualquer tipo de violência. Promover a prevenção e a intervenção entre iguais (intervenção de espectadores). No nível primário, uma das ações que podem ser implementadas é o “Clube dos Valentes”, que usa a intervenção dos pares para prevenir e eliminar conflitos.
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Bibliografia:
Espanhol:
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