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Notícias

14/02/2019

AEE nas escolas

As escolas também brilham à noite

As escolas também brilham à noite

Por: Yuri Cavero

“A cidade não está preparada para ser percorrida de bicicleta, é ainda mais complexo transitar pelas ruas congestionadas de Lima, Peru, no horário de pico. São quase sete da tarde e Elisbán tenta acelerar o seu trajeto, vai como um camaleão, com uma visão panorâmica que o mantém alerta rumo à escola. ‘Gostaria de ver as estrelas’ – falava para si mesmo –, mas esta cidade as esconde. Deve olhar para os lados, para a frente e para trás. ‘Sinto falta de levantar o olhar para o céu como na minha cidade natal, Cajamarca’, pensava, enquanto o semáforo permitia que tomasse um pouco de ar”.

São 836 Centros de Educação Básica Alternativa (CEBA), no nível nacional, que têm a oportunidade de finalizar o período letivo com mais de 240 mil pessoas que, por diferentes razões, tinham deixado de estudar (Minedu, 2018).

Adaptando-se os horários e conteúdos às necessidades deste público, o marco de referência dessa modalidade aponta características como ser flexível e participativa, de modo que a inserção de estratégias dinâmicas e de envolvimento de todos os atores tem feito sentido e respondido positivamente à realidade, que continua sendo a mesma reportada há vários anos: pobreza, migração, desemprego, abandono (Rivero, 2008).

Diante dessas problemáticas diversas, surge uma experiência que valoriza a diversidade e a converte em insumo de transformação educativa. Assim, a escola de Verneda de Sant Martí na Espanha, que é similar aos CEBA, desenvolveu diversas ações de participação conjunta, como as Tertúlias Literárias, baseadas nos princípios da Aprendizagem Dialógica (Valls, 2000),  entre eles o Diálogo Igualitário e a Inteligência Cultural.

As tertúlias literárias e pedagógicas baseiam-se nos princípios da Aprendizagem Dialógica. Em ambos os casos há construção coletiva de significado, as interações promovem uma compreensão mais profunda do texto lido e do pensamento do outro (García, 2016). Na sociedade da informação, deve-se aproveitar a diversidade que as salas de aula proporcionam.

Realización de Tertulias Literarias

“Todas as quintas no CEBA são realizadas Tertúlias Literárias, todas as salas contam, simultaneamente, com os seus livros e realizam a atividade durante uma hora. Elisbán bate na porta, está uma hora atrasado, sua professora lhe permite que entre, sabe que o seu chefe lhe deixa sair mais cedo. Sua jornada de trabalho é de 12 horas, às vezes muito mais, quando é época de campanhas. Ele se senta, pega o livro O Pequeno Príncipe, não quer perder a história no planeta seguinte, já que como o personagem, ele sonha em conhecer muitos lugares, mas só conhece esta cidade cinza e o quente céu azul da sua terra natal”.

Dentro do Currículo Nacional são apontados eixos que devem ser contemplados ao longo da vida escolar, que se potencializam com o desenvolvimento das Tertúlias Literárias. São eles:

Eixo de direitos: compreende os valores de diálogo e consenso, nos quais as atitudes supõem disposição para conversar com outras pessoas, trocando ideias ou emoções para que se construa junto uma postura comum[1].

Aldair: “Como o Vallejo perdeu a sua mãe e não pôde se despedir dela, porque ela estava longe da sua terra natal, eu me identifico, pois também não pude me despedir da minha mãe, ela agora descansa no cemitério de onde eu moro, passo todos os dias para lhe deixar flores”.

Rosa: “Não conheço muito o Aldair, mas sinto que ele tem um grande coração e isso faz dele uma boa pessoa, todos sentimos saudades dos que nos deixam. São poucos os que levam flores ao túmulo dos seus seres queridos, ele deve sentir muito a falta dela”.

Aldair e Rosa, estudantes do terceiro ano do avançado, CEBA Toribio Rodríguez

Eixo de atenção à diversidade: supõe o valor do respeito pelas diferenças e confiança nas pessoas, no qual se reconhece o valor inerente de cada um e dos seus direitos, acima de qualquer diferença[2].

José: “Com as tertúlias literárias posso me expressar sem temer, dizer o que sinto sem medo, posso confiar, assim como O Pequeno Príncipe com o aviador, que foi o único que entendeu o seu desenho”.

Yuly: “O Dom Quixote tinha um amigo em quem confiar, que era o Sancho; ganhou a sua confiança e viajaram juntos para se conhecerem melhor. Eu moro com a minha prima, porque viemos trabalhar em Lima e assim pagar os nossos estudos, temos as nossas discussões, mas juntas nos sentimos mais fortes”.

José e Yuly, estudantes de primeiro e quarto ano do avançado respectivamente, CEBA Toribio Rodríguez

Eixo intercultural: expressa o valor do diálogo intercultural. Fomenta a interação equitativa entre as diversas culturas, mediante o diálogo e o respeito mútuo[3].

“Elisban: Quando eu era criança o meu pai me levava para pescar com ele em Cocha Negra, podíamos ver os tracajás saindo dos seus ovos, trazíamos curimatãs e tambaquis. Quando você respeita a natureza, ela te dá de comer, esse parágrafo me lembra disso”.

Estudante de segundo ano do avançado, CEBA Enrique Guzmán y Valle

A realização das Tertúlias Literárias permitiu reconhecer a diversidade de uma maneira mais explícita, correlacionando-a com o processo de aprendizagem nas interações, a partir da leitura de um texto. Esse clima permitiu uma maior disposição para aprender, expressar as opiniões sem temor e gerar um hábito de leitura, considerado por todos como um espaço dinâmico e positivo dentro do CEBA.

“‘Quando lemos, sinto que posso me transportar a lugares em que realmente quero estar, temos uma vida muito agitada, todos aqui somos do Peru mesmo e desejamos nos superar. A escola é parte dessa etapa e eu gosto deste espaço, onde aprendemos com todos, com as nossas experiências sentimos que nessa viagem não estamos sozinhos, sentimos o mesmo, estamos acompanhados também pelos docentes que escutam com atenção as nossas histórias’, expressa Elisbán, enquanto fecha o livro e procura as estrelas novamente com o olhar”.

 


[1] Currículo Nacional de Educação Básica, página 20: quadro sobre o eixo de direitos.

[2] Currículo Nacional de Educação Básica, página 21: quadro sobre o eixo de inclusão ou atenção à diversidade.

[3] Currículo Nacional de Educação Básica, página 22: quadro sobre o eixo intercultural.

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