04/01/2017
Envolvimento da secretaria, de educadores e de voluntários em Cajamar
As escolas de Cajamar, na Grande São Paulo, seguem os princípios de Comunidade de Aprendizagem desde 2014. Para avaliar a implementação do projeto até agora nas oito escolas do município, no final de 2016 as equipes da secretaria e das escolas reuniram-se. Retomaram os resultados observados desde que tertúlias dialógicas, comissões mistas, assembleias para resolução e prevenção de conflitos e grupos interativos passaram a fazer parte da rotina da rede. Com base nas discussões que surgiram, pensaram o que pode ser aprimorado para 2017. “Notamos que ao longo dos anos as escolas acreditam mais no projeto. Antes era comum os educadores terem momentos de insegurança ou desconfiança em relação às propostas de CA, mas agora vemos que as ações que trazem frutos: os alunos melhoram o comportamento e mostram avanços na aprendizagem. Os professores se envolvem com as histórias e pontos de vista dos estudantes, e mudam sua forma de dialogar. As famílias também contribuem muito ao incorporar um novo olhar para a área pedagógica”, diz Karla Regina Pereira Oliveira, técnica da secretaria de educação responsável pelo acompanhamento do projeto nas escolas. Karla foi uma das selecionadas na ação de Reconhecimento de Comunidade de Aprendizagem em 2016, conforme texto que você lê aqui.
Ela tem clareza das suas diferentes responsabilidades e vontade de ver melhorias na aprendizagem sempre. “Acredito que a equipe da secretaria de educação deva ser um observador constante que viabilize novas possibilidades de trabalho. É importante fazer com que as informações se pulverizem entre as escolas, que um consiga ajudar o outro e que as boas propostas sejam mantidas”, diz. Para isso, ela procura organizar encontros periódicos com as escolas envolvidas com Comunidade de Aprendizagem e direcionar as ações de gestores e professores. O papel da rede é também de disponibilizar materiais e recursos. Em Cajamar, há livros para a realização das tertúlias comprados pela prefeitura e distribuídos para as escolas, troca de obras entre as escolas e controle de usos dos materiais. “Precisamos a todo tempo colocar energia, pensar em coisas novas, viabilizar ideias, ajudar o que estiver precisando de mais fôlego”, completa Karla.
Proximidade entre escolas, diálogo com famílias e professores
A diretora Maria da Cruz Sousa Santos também faz parte dessa engrenagem que liga CA, secretaria de educação e escolas. Ela relatou sua experiência com o projeto na ação de Reconhecimento, conforme texto que você lê aqui, na EM Antonio Pinto da Silva desde 2015. “Comunidade de Aprendizagem tem contribuído para a escola crescer. Temos maior interação, interesse dos estudantes, aulas diferenciadas e trabalho mais qualificado do que tínhamos antes”, diz. Na sua fala, Maria mostra a preocupação em se manter atualizada com o que acontece em outras escolas, ressalta a importância de criar um diálogo com as famílias e fazer o acompanhamento do trabalho dos professores. “Procuro estar presente nos encontros formativos mensais dos educadores, criar espaços para tertúlias pedagógicas periódicas, abrir diferentes canais de contato com as famílias para ouvir o que têm a dizer, e participar das reuniões com outras escolas que implementam CA, o que considero um espaço de formação do gestor. Estamos nos educando, nós e a comunidade, e tecendo essa relação”.
Hoje, 8 dos professores de sua escola incorporaram as Atuações Educativas de Êxito (AEE) com os 7º e 8º anos, fazendo Grupos Interativos e Tertúlias Literárias. E nas comissões mistas, os participantes têm discutido sobre conflito, acolhimento, necessidade de diálogo, humanização com as crianças, entre outros temas.
O professor de Matemática Carlos Adriano Marcondes é um dos educadores que faz Grupos Interativos com as turmas da escola Antonio Pinto. Ele começou o trabalho com CA em 2014 e aos poucos tem ampliado sua atuação. “A teoria complementa a prática e a prática retoma a teoria, ajudando a entendê-la. Uma ajuda a outra. Vemos que realmente as atuações, quando feitas corretamente, mostram êxito”. Ele nota diferença de comportamento dos estudantes que fazem parte dos Grupos Interativos. “Já criaram uma relação entre eles, ajudaram e pediram ajuda, passaram a se conhecer melhor. Com isso, estão mais abertos para falar e ouvir.”
Resultados também com a Educação Infantil
Na escola Ester Catarine Lozano são feitas as Tertúlias Literária, Musical e Plástica, além de Grupos Interativos e Comissões Mistas, com as crianças de 4 e 5 anos. Na discussão sobre o clássico Alice no País das Maravilhas, as professoras selecionaram páginas da obra para serem lidas antecipadamente pelos pais com os pequenos e viram como as crianças pensam e se expressam cada dia melhor. Nos Grupos Interativos, utilizam jogos, desenhos e outros materiais diversos, o que se torna muito proveitoso quando há voluntários para apoiar o trabalho. A comissão mista, em encontros periódicos e participação ativa das famílias, tem realizado alguns dos sonhos. “Já fizemos muito, dentro de nossas possibilidades. Nem tudo já mostra resultados, mas temos vivido um processo muito produtivo”, conta Flavia Palares, diretora da escola. “Eu não acreditava que as práticas de Comunidade de Aprendizagem seriam proveitosas na Educação Infantil. Mas quando vejo as possibilidades de trabalho e os resultados, fico muito bem impressionada. Os professores comentam que muitas vezes observam aspectos das crianças durante as AEE que não são vistos nas ações rotineiras, o que desperta outras ideias”, conta. Valdineia, professora da turma de 4 anos, complementa: “Noto que as crianças melhoraram a interação entre elas e a socialização com os voluntários. Passaram a ter mais autonomia e se expressam melhor oralmente. Nos Grupos Interativos, trabalhar com jogos tendo o apoio de outros adultos em uma turma de 25 crianças é ótimo. Dessa forma, tenho apoio para a explicação das regras e o acompanhamento das partidas”.
Planos para o futuro
Um dos desafios vistos pela secretaria de Cajamar para 2017 em relação a Comunidade de Aprendizagem é a falta de conhecimento sobre o projeto das equipes que assumem as escolas. Para lidar com isso e fazer com que as experiências circulem, estão sendo planejadas apresentações sobre as ações já realizadas. Dessa forma, umas mostram às outras as possibilidades de trabalho com Comunidade de Aprendizagem nos diversos contextos. Também está prevista para o próximo ano a inclusão das Tertúlias Literárias e Pedagógicas na rotina da secretaria de educação para os diretores das escolas da rede.
Em 2016, os pequenos da educação infantil, passando pelos estudantes do Ensino Fundamental ou da Educação de Jovens e Adultos tiveram contato com CA, o que torna as práticas mais sólidas e envolventes a todos da rede a cada dia. Ao sistematizar os conhecimentos e trocar experiências, as equipes compartilham caminhos que estão sendo traçados e pensam outras formas de tornar o trabalho mais efetivo. “Procuramos aprender com os diferentes contextos: há dificuldades de iniciar a implementação do projeto, mas também de mantê-lo nas escolas, graças a desafios diversos, como a rotatividade das equipes de diretores e professores”, explica Karla, técnica da secretaria.