25/10/2017
Transformação de escolas Eventos 2017
Conheça os vencedores da ação de Reconhecimento de 2017!
Rachel Teixeira de Carvalho e Paulo Roberto Magalhães foram os vencedores na Ação de Reconhecimento de 2017! Na iniciativa, foram analisados os 94 trabalhos inscritos que mostravam Participação Educativa da Comunidade, Práticas Inclusivas e Aprendizagem Dialógica.
O anúncio dos vencedores foi realizado dia 24 de outubro no VII Encontro Internacional de Comunidade de Aprendizagem, em São Paulo (foto acima). Parabéns a todos os educadores que registraram suas experiências!
Conheça abaixo as duas histórias:
Rachel Teixeira de Carvalho, da EMEF Eva Cordula Hauer Vallejo, em Atibaia (SP) (neste link, assista ao depoimento da educadora em vídeo)
“Desde 2016 sou coordenadora pedagógica em uma escola rural em Atibaia, interior de São Paulo. Atendemos 360 crianças de 4 a 11 anos, sendo que cerca de 300 ficam conosco em período integral. Como estávamos tendo uma série de dificuldades, notamos que era necessário estruturar a escola para aproximar a comunidade da nossa rotina e fazer com que as crianças se sentissem parte da instituição.
A nossa transformação não veio com recursos financeiros, mas com recursos humanos. Fizemos algumas reuniões e, com base nos desejos dos funcionários, das crianças e da comunidade, estabelecemos metas para alcançar. Em linhas gerais, buscamos os seguintes focos:
- Participação efetiva dos pais e membros da sociedade no processo de ensino e aprendizagem;
- Desenvolvimento das habilidades cognitivas dos alunos de maneira que 100% deles pudessem se desenvolver de maneira plena;
- Integração das oficinas com as aulas regulares;
- Planejamento coletivo envolvendo os diversos membros do processo educativo;
- Transformação dos espaços de maneira que esses se tornassem um ambiente educativo e atrativo.
Cerca de um ano e meio depois, sinto que estamos mudando o cenário da escola. As crianças brincam o tempo todo e cuidam do espaço que é delas! Fizemos mutirões para melhorar os espaços físicos da escola, com pais pintando as paredes e a quadra, e as crianças cuidando da composteira e da horta.
Elas também pintam quadros nos muros, transformam os corredores em espaços de exposição e é nítido que quem a ocupa os espaços da escola são os alunos: a expressão artística e linguística está em todos os lugares. Notamos que além do bem-estar, esse ambiente também tem possibilitado mais aprendizagem!
Também criamos 14 oficinas, como de violão e balé, que são ministradas dentro ou fora da escola, em locais adaptados, com o propósito de formar pessoas únicas e capazes de atuar de maneira significativa na sociedade. O planejamento das oficinas é coletivo, quando os professores trocam experiências com os colegas e fazem um levantamento das habilidades a serem exploradas.
Organizamos momentos contínuos de recuperação paralela, com professores auxiliares em salas de aula semanalmente, e no período inverso, turmas de Matemática e Língua Portuguesa. Os conteúdos e habilidades a serem trabalhadas são elencados através dos resultados de avaliação que periodicamente são tabulados, comparando a evolução individual do aluno e da turma para estipular estratégias.
Cerca de 90% dos pais estão presentes nas reuniões, que ocorrem durante a semana, à noite. A cada bimestre planejamos novas ações e avaliamos o que foi feito, e seguimos sempre com alegria.
O trabalho é dinâmico e vai além da sala de aula. As crianças desenvolvem-se de maneira plena e tem voz, que aparece nos diálogos, nas canções de nosso coral, nas notas da nossa oficina de violão, na arte, na dança ... aprendem a aprender e nos ensinam a amar!”
Paulo Roberto Magalhães, da EMEF Duque de Caxias, São Paulo (SP) (neste vídeo, assista ao depoimento do educador em vídeo)
“Convivemos com problemas sociais gritantes no entorno da escola, como prostituição, violência e drogas. Os cerca de 1.100 alunos da EMEF são atendidos em 3 turnos, em turmas de Educação Fundamental, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA). No bairro temos pessoas de cerca de 90 nacionalidades e dentro da escola são estudantes vindos de 20 países!
Percebíamos que as famílias estavam sempre distantes do ambiente escolar, do próprio bairro e da cidade em que vivem. Então em 2016 implementamos o projeto “A Arte de Ocupar os Espaços Educativos na Metrópole” para a utilizar outros ambientes urbanos e realizarmos uma grande transformação da escola e da comunidade.
Comecei esse trabalho nas minhas aulas - sou professor de Geografia para as turmas de 6o e 7o anos – mas me uni a outros professores para realizar diversos projetos interdisciplinares que fossem articuladas às propostas da sala de aula. Começamos a vasculhar o território timidamente, pois a própria comunidade não olhava com bons olhos nossos alunos fotografando o bairro ou tentando entrevistar moradores. Fizemos caminhadas, cortejos, pesquisas de campo, aulas públicas, e ocupamos não só o bairro, mas outros equipamentos educativos da Cidade de São Paulo, como museus e prédios públicos, procurando aprender com o que a cidade oferece.
O projeto estimulou a formação de líderes e fortaleceu o entendimento da valorização do espaço e de sua ocupação. Hoje as Assembleias de classe são um instrumento vivo na escola assim como o nosso Grêmio Estudantil. Já notamos o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões, proporcionando interações e o desenvolvimento social, emocional, físico e cultural.
A implantação do projeto fez com que os alunos conhecessem a importância de preservar o espaço público e reconhecer através dele o seu papel na sociedade, contribuindo para que ele seja o ator principal dessa transformação. A cada esquina, muito aprendizado, muitas perguntas e questionamentos dos alunos sobre a cidade. O que é cuidar da cidade? A cidade também cuida? Quem cuida de quem? Aos poucos todos compreenderam como eles, assim como os vizinhos da escola, têm direitos e deveres com o espaço urbano. Enfim, o Projeto tem a finalidade de apontar como é possível transformar a educação a partir e através dos muros da escola!”
Os dois vencedores tiveram direito aos seguintes prêmios: participação no Encontro Internacional de Comunidade de Aprendizagem e no curso de Certificação de Formadores em Comunidade de Aprendizagem em 2018, ação de intercâmbio para conhecer o trabalho desenvolvido pelo outro vencedor. Para as escolas em que atuam os 2 (dois) vencedores, serão distribuídos 30 livros Aprendizagem Dialógica na Sociedade da Informação (de Adriana Aubert, Ainhoa Flecha, Carme García, Ramón Flecha e Sandra Racionero), bem como será oferecida uma palestra do formador Ricardo Paim.
Por Beatriz Santomauro
(crédito das duas últimas fotos: Tiago Xavier dos Santos. Das demais: divulgação)