24/07/2017
Transformação de escolas Eventos 2017
As melhores interações para os resultados mais importantes
Para que exista a transformação que o projeto de Comunidade de Aprendizagem propõe, é necessário que a escola possibilite potentes formas de interação entre estudantes e comunidade. Com isso, “perseguimos formas de garantir ao máximo e ao mesmo tempo o desenvolvimento cognitivo, social e emocional, sem priorizar um ou outro”, disse Rocío Garcia Carrión, pesquisadora do Comunidade de Pesquisa para a Excelência para Todos (Community of Research on Excellence for All) (CREA), com sede na Universidade de Barcelona, na Espanha, durante o primeiro módulo da certificação de formadores em Comunidade de Aprendizagem.
O encontro, realizado em maio, foi organizado pelo CREA, o Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa (Niase/UFSCar) e Instituto Natura. Durante a sua intervenção, Rocío explica que essas afirmações estão baseadas em evidências científicas (que indicam que a aprendizagem é social e, portanto, em interação) e em práticas que mostram resultados acadêmicos e sociais, como Grupos Interativos e das Tertúlias Literárias Dialógicas.
A seguir, veja um resumo da fala da pesquisadora para que você também possa refletir sobre o assunto!
Não é qualquer interação que transforma
A interação social mediada pela linguagem é a chave da aprendizagem. A linguagem conduz o pensamento das pessoas e possibilita a compreensão do que está sendo pensado. Quando uma pessoa dialoga com outra, complementa suas ideias e permite que outras opiniões sejam construídas coletivamente.
Cada um tem sua forma de utilizar a linguagem, com interações verbais e também não-verbais (com qual tom, atitude e expectativa), e isso causa um impacto em como pensamos. Não basta deixar as crianças falarem: é preciso criar condições perfeitas para que possam pensar juntas, porque o desenvolvimento depende de um contexto – conforme já afirmava o psicólogo Lev Vygotsky – e é importante que os princípios da aprendizagem dialógica não sejam uma realidade em um só momento do dia, mas em todo o tempo, para garantir a qualidade desse diálogo.
O que dizem os pesquisadores
Na década de 1950, Jerome Bruner e seus colegas deram importância grande para a cognição humana. Foi uma evolução no contexto de aprendizagem! Bruner imprime uma visão cultural e social de pensamento, e insiste que toda atividade mental está situada na cultura e que se desenvolve quando as pessoas criam significados juntas. O neurocientista Eric Kandel, Nobel de Medicina em 2006, explica que o cérebro humano e a habilidade cognitiva dependem da experiência social, o que confirma hoje o que Vygotsky dizia há quase 100 anos.
Por isso, a forma como os educadores organizam as salas de aula têm um impacto enorme no que as crianças vivem. Essa interação social ajuda muito a aquisição da linguagem, o que possibilita a máxima aprendizagem. Se os contextos não são ricos de interação, as crianças não se desenvolvem tanto. Essa orientação também é coerente com o que dizia Paulo Freire: as mudanças nas pessoas possibilitam modificações no contexto, e um interfere no outro.
Entre um contexto rico e outro pobre de interações, a diferença de conhecimento entre as crianças é grande. Quando são menores, essa diferença não é tão evidente, mas conforme crescem, ela se amplia. Temos a oportunidade de romper essa dinâmica na escola, a cada dia, colaborando para o futuro sucesso educativo de cada um. Para muitos, a escola é a única oportunidade para vivenciar essa interação estimulante, variada e rica.
Papel da escola e práticas que dão resultado
Devemos observar onde as crianças podem avançar - a chamada zona de desenvolvimento proximal - porque queremos que aprendam mais! O projeto Comunidade de Aprendizagem concentra os esforços aí! Podemos buscar apoio com famílias, respeitar os tempos de aprendizagem, mas em um movimento o mais inclusivo possível, em que o contato entre os diferentes saberes acrescente a todos. Por isso a escola precisa colocar seus esforços no que as crianças precisam aprender.
Crianças de 10 ou 11 anos que vão à escola há seis anos e ainda não aprenderam a ler e a escrever, mostram o fracasso da sociedade, a exclusão completa. Mais do que descrever ou explicar as causas para isso, precisamos fazer algo, encontrar soluções já e resolver a questão. Não podemos permitir essa situação!
Os Grupos Interativos são uma situação privilegiada para isso porque possibilita o encontro de grupos pequenos, heterogêneos, com voluntários fazendo a mediação e professores tirando dúvidas sobre determinados conteúdos.
Nas Tertúlias Dialógicas Literárias, as crianças têm oportunidade para interagir umas com outras, há diversidade entre as crianças que participam, e o conteúdo do que dizem também é profundo. Nas pesquisas, verificamos que o tempo de fala é muito melhor distribuído entre a turma, e que os assuntos são relacionados a temas da sala de aula e da vida cotidiana. As crianças entram em contato com títulos complexos e encontram contexto para isso. E para conseguir interagir precisam escutar e defender suas ideias, o que colabora para compreenderem que existem pontos de vista diferentes.
Nas interações também é potente desenvolver o afeto: as relações podem construir valores, emoções, sentimentos, prevenir a violência e desenvolver emocionalmente. Deve-se fortalecer as crianças e as amizades, e com isso prevenir violências de todos os modos. É essencial colocar foco na construção de valores que queremos educar: de solidariedade, justiça, igualdade, vivendo e educando de acordo com isso, o tempo todo. A escola pode se posicionar.
Todas as atuações educativas de êxito pretendem prevenir conflitos, formando espaços de diálogo com toda a comunidade. Queremos o melhor desempenho acadêmico dos estudantes, e que eles tenham boas relações, os melhores amigos e felicidade. Os resultados são uma melhora em todos os aspectos, e um direito humano.