31/01/2016
Transformação de escolas AEE nas escolas
A cuidadosa implementação do projeto em quatro escolas do interior de São Paulo
Preocupada com os resultados de aprendizagem dos estudantes, no final de 2014 a Secretaria de Educação de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, apresentou às escolas do município alguns projetos que pudessem melhorar o desempenho acadêmico dos alunos. Algumas dessas escolas participaram da Sensibilização de Comunidade de Aprendizagem e quatro delas decidiram implementar o projeto: EM Paul Percy Harris, EM Cyrino Vaz de Lima, EM Doutor Ruy Nazareth e EM Professora Daisy Rollemberg Trefiglio.
“Educadores de instituições localizadas em bairros periféricos e em regiões de vulnerabilidade estavam inconformados com as situações de repetência, violência e evasão. Precisavam de apoio para mudar o quadro!”, conta Elza de Araujo Góes, técnica da Secretaria de Educação, que conhece bem tanto a realidade das escolas da rede quanto a força do Projeto Comunidade de Aprendizagem. Elza é a responsável por acompanhar o trabalho das equipes com o projeto. Para ela, as palavras “sonho”, “transformação”, “tertúlia” e “comissão” ganharam outros significados em 2015, quando mergulhou no projeto, fazendo parte do grupo de Certificação de Formadores, curso promovido pela primeira vez.
Seu município foi o pioneiro no trabalho com Modelo Integrado, como é chamada a forma de implementação em que o Instituto Natura se encarrega de encontros de formação trimestrais, mas um técnico da Secretaria de Educação da cidade acompanha de perto as escolas. São José é um exemplo de trabalho bem feito: “É incrível ver como as coordenadoras e gestoras estão apropriadas do projeto e o quanto tomaram para si a realização junto à comunidade”, conta Madalena Monteiro, formadora do Instituto Natura. Depois dessa cidade, Mogi Mirim, Ourinhos e Mairiporã, todas no interior paulista, estão seguindo o mesmo Modelo Integrado.
O envolvimento em cada escola e os desafios que estão por vir
Em menos de um ano de implementação do projeto, as quatro escolas se organizaram em Comissões Mistas para priorizar os sonhos e alcançar os objetivos previstos para essa etapa. As demandas que surgiram foram direcionadas para as comissões, que se reúnem mensalmente e, em geral, se referem à infraestrutura, à área pedagógica, ao relacionamento e aos eventos. O empenho dessas equipes gerou frutos, como a compra de livros utilizando a verba obtida no brechó, a construção da horta e a articulação com a prefeitura para a construção da quadra, e garantiu ainda a visita do Papai Noel tão pedido pelas crianças.
Apesar do empenho da comunidade para a formação das Comissões Mistas ser grande, o desafio de 2015 foi conseguir voluntários para implementar algumas das Atuações Educativas de Êxito (AEE) que envolvem a Participação Educativa da Comunidade. “Embora as famílias fiquem interessadas, não conseguem dispor de tempo de dedicação para essas atividades na escola”, conta Camila de Souza Antoniassi, da EM Cyrino Vaz de Lima. Porém, as quatro escolas conseguiram implementar a Tertúlia Dialógica Literária.
Na EM Paul Percy Harris, por exemplo, a leitura de textos literários discutidos nas Tertúlias está sendo feita em tablets. A tecnologia foi introduzida aos poucos, para que o acessório não chamasse mais a atenção das crianças do que as histórias lidas, e para que os alunos pudessem conhecer o processo das Tertúlias realizadas com os livros. “Quando as crianças já estavam apropriadas com o formato da AEE, os tablets passaram a ser usados”, conta a formadora Madalena.
Nos momentos das Tertúlias Dialógicas Literárias realizadas na EM Professora Daisy Rollemberg Trefiglio, os alunos dos 3o anos são os “padrinhos de leitura” dos pequenos da Educação Infantil, lendo as histórias que serão discutidas e criando um interessante vínculo entre turmas. Outro trabalho da instituição está sendo identificar os conflitos e problemas que estavam prejudicando a convivência da escola, conforme orientação do Modelo Dialógico de Resolução de Conflitos.
As crianças participaram de duas reuniões para identificar o que deve ser melhorado, e os próximos momentos serão elencar quais são mais urgentes, formar Comissões Mistas para elaborar normas que contribuam para minimizar e abolir os conflitos, aprovás-la em assembleia, colocar em prática para testar e avaliar se a norma funciona ou necessita de revisão. Se necessário, vão revisar as normas e aplicá-las novamente, até que sejam incorporadas à rotina de convivência nessa comunidade. Outra novidade, conta Vanessa Garcia Sanchez, gestora da escola, foi a abertura da Biblioteca para a comunidade uma vez por semana. Como planejamento para 2016, a escola deve começar o trabalho com outra AEE, a Biblioteca Tutorada.
Já a EM Doutor Ruy Nazareth pretende começar os Grupos Interativos neste ano. Para isso, a equipe se dedicou a retomar as orientações e fundamentos teóricos dessa AEE e tirar dúvidas, numa Formação Dialógica Pedagógica, realizada em dezembro de 2015. Agora se sentem mais apropriados para implementá-la. Dezembro também foi um mês de trabalho duro na EM Cyrino Vaz de Lima. Como a equipe gestora vai deixar a escola, a dedicação foi para uma transição bem feita. Para garantir isso, as Comissões Mistas realizaram uma reunião de fechamento do trabalho, com sistematização do que foi feito e possíveis encaminhamentos.
A rede municipal está animada: 2016 promete revelar a continuidade e consolidação do trabalho realizado pelas Comissões Mistas e a ampliação das Tertúlias Literárias para outras turmas, além da expansão da vivência dos princípios da Aprendizagem Dialógica, com a implementação de outras AEEs, como os Grupos Interativos e a Biblioteca Tutorada. E outra grande novidade: a rede planeja apresentar o projeto para outras escolas, o que contribuirá para ampliar a rede de Comunidades de Aprendizagem na cidade. “Acima de tudo, mais do que ter pressa em novas realizações, a intenção da rede é manter o bom planejamento, o envolvimento e a seriedade adotadas até agora”, conta Madalena.
Por Beatriz Santomauro