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Notícias

22/05/2018

Transformação de escolas AEE nas escolas

Vozes de transformação - experiências vividas na Escola Agustín Yáñez, de Jalisco, México

Vozes de transformação - experiências vividas na Escola Agustín Yáñez, de Jalisco, México

Cravada em um bairro urbano popular do município de Tlaquepaque, na região metropolitana de Guadalajara, a segunda maior cidade do país, está a escola primária Agustín Yáñez, à qual se chega por escondidas ruas de calçamento.

Há dois anos e meio, tivemos a sorte de conhecer o diretor Emilio Cortés Zavalza, um professor com longa trajetória e muita experiência, espirituoso, alegre, desses mestres de antigamente que impõem respeito, que gostam de ordem, de responsabilidade, mas que estão sempre com o coração voltado para as ações. Ele ouviu falar sobre o projeto Comunidade de Aprendizagem e abriu as portas da escola.

O projeto, que convoca a participação livre e voluntária, tem se realizado passo a passo. Dois foram os docentes que o começaram. Com o passar do tempo, o trabalho desses dois professores tem rendido frutos a seus alunos e colegas graças ao seu compromisso e resultados obtidos; atualmente são seis grupos participando. A chave tem sido o ânimo, a constância e a confiança mantida ao longo de três anos.

“A experiência que tive ao trabalhar com Tertúlia Literária e Grupos Interativos foi muito enriquecedora, porque já são anos participando com grupos de 5ª e 6ª séries; no início houve uma resistência dos alunos, e inclusive em algumas ocasiões de colegas docentes, em modificar formas de trabalho dentro da escola, mas pouco a pouco tem se dado uma abertura principalmente por parte dos alunos; o que eu observei é que para eles, desde o primeiro ano em que trabalhamos, foi uma grande novidade, a forma como se podia compartilhar, dialogar, contribuir, a maneira como estava organizada a sala para que eles chegassem a uma atividade diferente da de todos os dias”, expressa a voz da professora María Guadalupe Hernández Ruiz.

Nesta nota informativa, queremos que prevaleçam as vozes de quem integra e participa do projeto Comunidade de Aprendizagem, transmitir seus testemunhos a fim de compartilhar e dar visibilidade aos esforços e avanços obtidos.

Minha experiência com as Tertúlias é muito benéfica, tem me ajudado a conhecer melhor meus alunos, já que eles expressam melhor seus sentimentos de acordo com a leitura que estão fazendo. Acredito que uma criança que lê trabalha muito melhor nas outras matérias. Eles aprenderam a se expressar, seus comentários na aula melhoraram. Uma pessoa que lê é uma pessoa cada vez mais culta; então ler é muito bom no meu ponto de vista.

Pessoalmente me ajudou a ler mais livros, compartilho-os com os alunos, que é outra forma de aprender, porque ao reler aproveitamos mais. Depois de participar por três anos, as Tertúlias Literárias continuam fazendo sentido porque são livros e grupos diferentes, cada um tem sua forma de trabalhar, seu estilo e é sempre enriquecedor. É um projeto que tem me ajudado muito e desejo continuar”, comenta o professor Francisco Ochoa Franco. 

O professor Francisco e a professora Guadalupe são pilares do projeto. Ao final do primeiro ciclo escolar prepararam, junto com seus estudantes, uma obra de teatro que compartilharam com membros de cinco escolas primárias da região escolar, de um total de dez que a integram, para mostrar o que tinham trabalhado nas Tertúlias. O roteiro incluiu personagens dos diferentes livros lidos. O Pequeno Príncipe aparecia dialogando com o doutor Jenkins, uma mãe da escola conversava com o Ali Baba e eles comemoravam poder se encontrar, estar juntos e tomar café, graças às Tertúlias que faziam nas aulas.

Até agora aconteceram novidades que vão gerando sentido para eles, mudanças vividas pelas crianças neste tempo, transformações pessoais e coletivas.

“Gosto das Tertúlias porque no grupo que fazemos, todos compartilham. Eu antes era muito tímido, quando entrei, não gostava de falar e agora as Tertúlias me ajudam a participar, a dizer o que eu penso, e me sinto bem porque convivo com meus amigos, com a professora. [Eles] me ajudam a ler melhor, porque antes não lia tão bem. É divertido porque lemos livros diferentes e depois, quando terminamos, a professora nos convida a fazer uma representação do que se tratava o livro, como o de Anne Frank que fizemos um diário, mostrei o livro para minha mãe e dividi com minha família para que eles também lessem, porque como diz a professora, no México não são tantos os que leem, quase a minoria, e devemos fazer isso para melhorar nossa leitura. Gosto porque conto para minha mãe o que fazemos aqui na escola e ela diz que é bom. Gosto dos Grupos Interativos porque compartilhamos com nossos amigos, brincamos e também me ajudaram a falar mais, não tenho mais medo e já dou a minha opinião.”  - Eduardo Virreyes, estudante

Outro aluno comenta: “gosto das Tertúlias porque todos do meu grupo participam, todos tentam trazer a leitura em dia para aprender e ler mais. Eu aprendi a compreender mais as coisas, comecei a ler mais e vejo que meus colegas se esforçam o máximo que podem para trazer seus parágrafos para compartilhar com o grupo.”  - Jorge Alejandro Guerrero, estudante

As Atuações Educativas de Êxito implementadas na escola Agustín Yáñez transcenderam as salas, alcançando inclusive fora do campus. A professora Guadalupe compartilha:

“A resposta tem sido muito bonita. Eu vejo que as crianças começaram a se apaixonar pela literatura, algo que nunca tinha visto nesta escola. No momento em que começaram a trabalhar com as Tertúlias Literárias, as crianças foram conhecendo realmente os textos clássicos, o que é muito importante. Uma vez que os conheceram, não só começaram a se divertir, mas também foram compartilhando em família, levando os textos para casa. Eu comecei a trazer livros, alguns clássicos e outros não; isso foi no primeiro ano, levavam os textos para casa no fim de semana, depois percebi que não era só para eles, mas que tinham tios ou primos que lhes pediam livros e eles os levavam para que seus familiares lessem, foi-se formando uma pequena corrente e para mim foi algo muito positivo, porque sem querer ou nos propor a isso, alcançamos os lares, de forma muito fácil. Não teve tanto o que fazer de minha parte, as próprias crianças começaram a promover [a leitura] em suas casas, foi muito legal esse fenômeno.

No ano seguinte, a mesma dinâmica de Tertúlias Literárias continuou e comecei a ver que aumentaram as crianças leitoras, leitoras assíduas, levavam livros todos os fins de semana e aqui, por exemplo, no horário de escola se via duas ou três crianças com seus livros na hora do recreio, que de forma espontânea conseguiram livros e isso me deu muita satisfação, porque não era só a questão dos livros que compartilhavam aqui na sala, mas um gosto pessoal. Eu digo que assim começaram a amar a leitura, tinha criança que vinha e falava com você sobre os personagens, com quem se identificavam, o que significava para eles ter conhecido a história desse ou daquele personagem, fictício ou não.”

Um ponto central, nodal, de Comunidade de Aprendizagem é a participação de familiares. As interações geradas entre alunos são potencializadas com a presença ativa de voluntários, nesse caso, mães ou pais de família que acompanham as atividades. Nesse centro educativo, o envolvimento das famílias tem sido difícil por vários fatores: horários de trabalho, pouca cultura de participação, trabalhos domésticos, apatia, resistências e medos; o processo tem sido lento, mas veem-se avanços.

“A professora me convidou para participar na sala, foram formadas várias equipes e ajudamos as crianças com os problemas para que elas mesmas resolvam, se não sabem alguma coisa ajudamos, para que leiam bem suas perguntas e vejam o que têm que responder. Para mim é uma boa atividade, porque as crianças se desenvolvem e os que não participaram talvez participem na próxima vez.

Acho que precisamos de todos, nós precisamos da professora e a professora precisa de nós, para o bem das crianças. Fico à vontade na sala, às vezes dizemos que não temos tempo, mas temos que fazer isso para estar com as crianças” - Alejandra Elizabeth Martínez, mãe

A presença de familiares nas salas aporta um sentido também para as crianças, que conseguem ver que se trata de outra forma de vincular-se à escola.

“Gostamos que a professora esteja conosco, que chame algumas mães e que venham trabalhar conosco, que nos Grupos Interativos cada uma vá falando. Nós ensinamos às mães e elas a nós. É valioso, que elas possam vir, que saibam como nosso grupo está trabalhando, que venham não só assinar os boletins de notas ou às reuniões só ouvir, que elas nos vejam e não falem meu filho é inteligente tira dez e pronto.” - William Robles, estudante

Esse trabalho solidário e colaborativo, a dinâmica interativa, o diálogo igualitário baseado em argumentos válidos vai facilitando a escuta das crianças, criando sentido e permitindo que vinculem a leitura e aprendizagens com suas experiências pessoais, familiares, sociais, provocando reflexões. Compartilhamos a seguir depoimentos de três estudantes:

“Eu estou lendo agora o 'Diário de Anne Frank', é uma menina que está na Segunda Guerra Mundial, sobrevivendo aos alemães e à guerra. Esse livro me deixou pensando, nós não podemos viver sem tecnologia e a única coisa que a Anne tem é um lápis e um caderno, ela se diverte. Nós sem tecnologia não somos nada, o mundo está desenvolvido demais, um exemplo, em Vía Montana tinha lagoas, agora são só apartamentos, tecnologia e mais tecnologia, isso está acabando com o mundo, é 50 e 50, sim, é bom para você, mas está destruindo o meio ambiente.” - Christian Raúl Olmos, estudante

“As Tertúlias são divertidas, gostei das leituras do 'Cavaleiro sem cabeça e outros contos', a 'Alice no país das maravilhas' e a 'Volta ao mundo em oitenta dias'. Acho que contribuem para o grupo, porque assim podemos nos expressar mais; ouvi muitos dos meus colegas falando que as Tertúlias foram marcantes para eles, saber de tempos passados, o que viveram. Gosto de compartilhar meu trecho, explicar, pesquisar e escrever o que significa, e depois falar dele. As Tertúlias também me marcaram, eu gosto muito.” - Alondra García F., estudante

“Quando fazemos Tertúlia é como uma parte de você, porque quando você lê, sente que te deixa um ensinamento e ter a capacidade de poder dizer tudo o que pensa sobre a leitura faz você se sentir bem; porque a leitura te deixa experiências e assim você já pode fazer várias coisas, como ler bem e também tem várias aprendizagens, porque nestes tempos todo mundo só se preocupa com o celular e lê pouco. Eu digo que é melhor ler livros porque te ajudam a ter ideias e depois você mesma pode fazer também.” - Grecia Maireni, estudante

A escola Agustín Yáñez tem vivido transformações derivadas da implementação das Atuações Educativas de Êxito, as quais implicam acolher novas formas de trabalho e relação e de localizar os papéis de cada um dos membros da comunidade educativa participante no projeto. As mudanças são percebidas pelas crianças e também pelos docentes. A seguir, transcrevemos o restante da entrevista com a professora Guadalupe, cuja narração parece-nos muito ilustrativa, de uma grande riqueza:

“Todo este processo tem sido muito importante, porque aprenderam não somente a contribuir com ideias, ao princípio era muito literal, contavam coisas muito ao pé da letra, frases que ficavam registradas, ou diziam 'eu acho o mesmo que meu colega' ou repetiam o mesmo, então foram pouco a pouco compartilhando coisas mais profundas e pessoais, sua identificação com um personagem, do que gostavam, quais valores descobriam e foi muito interessante isso, ver como o processo de leitura ia avançando, a interiorização e o significado que chegou a ter para eles.

Tivemos produtos, resultados muito interessantes ao final de cada ciclo, coisas que foram feitas no primeiro ano, por exemplo, juntamos vários grupos e fizemos uma pequena obra de teatro para representar os textos que tinham lido e foi o isso que foi divertido fazer. No ano passado trabalhamos muito a questão de que não é só aprender e se divertir com o que outras pessoas escrevem, mas também que assim como eles, nós também podemos escrever nossas ideias, nossas histórias e que os outros saibam o que pensamos. Então começaram a escrever de uma forma muito espontânea e logo já formalizamos, e foi possível fazer um texto do qual as crianças gostaram muito, resultado de sua leitura, de um trabalho de leitura.

Este ano as crianças também trataram de se integrar, temos tido menos reuniões por conta de rearranjos em várias atividades escolares, mas as que tivemos até agora também foram significativas, já leram dois textos e estamos no terceiro. Eles estão motivados e eu vejo que da parte deles e de seus familiares tivemos mais resposta, têm vindo participar mais das Tertúlias, principalmente mães; também dos Grupos Interativos que já implementamos e as crianças descobrem ali a capacidade de trabalhar em equipe, que precisam se abrir às contribuições dos outros e também que eles próprios podem contribuir com seu grupo, sua equipe. Conseguem ver como a aprendizagem é muito mais simples, mais fluida para eles e as coisas que causam resistência, temor ou se existe alguma dificuldade em uma aula normal, na hora dos Grupos Interativos, mesmo quando continuam sentindo certa desconfiança pelo que são capazes de aportar, animam-se, atrevem-se, vão contribuindo; eu diria que são atores de sua própria aprendizagem.

Aprenderam a respeitar-se muito, a dialogar, a escutar o outro. Ainda há algumas crianças que se esquecem desses detalhes, mas pouco a pouco o próprio grupo vai orientando também, e se algum menino sai da norma ou das regras que temos no momento das atividades, não sou só eu que chamo a atenção para que se integre novamente, os próprios colegas ajudam para que se integre e controle sua inquietude. Acho que avançamos muito também nisso, estou muito feliz, porque não só foi no nível do grupo, mas também no nível da escola, houve uma transcendência importante, porque mais professores aderiram às Atuações Educativas de Êxito. A princípio havia mais resistência, mas viram resultados nas aulas que estamos implementando e se juntaram. É importante continuar motivando, apoiando o trabalho que se faz, mas também promovendo e expondo os resultados do que vamos fazendo, que vejam que não é um trabalho adicional, pelo contrário, facilita o trabalho que é feito dentro da sala. Não é nada mais que ajudar para que as próprias crianças criem em todas as suas possibilidades, todas as suas capacidades e tenham certeza de que são parte de um grupo e de uma sociedade com a qual têm muito o que contribuir.

Acredito e tenho a certeza de que o que temos trabalhado com Tertúlias e Grupos Interativos favorece a interação social, de uma forma mais respeitosa e responsável ao fazer parte de uma sociedade. Eu estou encantada pelo trabalho.”

Agradecemos àqueles que com sua palavra nos permitiram ver um pouco do muito que se trabalhou, do que significou e contribuiu para eles realizar Tertúlias Literárias e Grupos Interativos.

Acreditamos que o caminho seguido por docentes, estudantes e familiares da escola Agustín Yáñez continuará crescendo, ampliando-se e rendendo frutos, que as mudanças continuem em frente para benefício e transformação de toda uma comunidade educativa.

 

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